Homilia do Padre Emmanuel Schwab

Domingo 14 de janeiro de 2024

2nd Domingo Durante o Ano – Ano B

1a leitura: Atos 10,34 a.37-43

Salmo: 117 (118), 1.2,16, 17-22, 23-XNUMX

2nd leitura: Colossenses 3,1-4 Evangelho: João 20,1-9

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Aparentemente, há algo para ver... mas como? Primeiro temos que ver a realidade, é a primeira coisa que nos é tangível, que nos é acessível. O evangelho é preciso em sua descrição. As traduções são menos. Maria foi ao túmulo. Ela vê que o túmulo está aberto. Parece que ela não entra, que tem que olhar rápido e conclui que o Senhor não está mais ali. Ela vai procurar Pedro e o discípulo que Jesus amava. Os dois chegam e lá nos falam de olhares, mas o que eles veem? E o que eles veem de intrigante? Porque se alguém veio roubar o corpo de Jesus, o mais simples é retirá-lo tal como está no sudário. Mas o sudário está lá. A coisa menos simples é retirar a mortalha e retirar o corpo nu. Mas por que ?

Mas há algo mais sutil no que eles veem: na verdade, nada mudou desde a noite de sexta-feira. Tudo está no lugar, exatamente igual. O linho está simplesmente flácido, como se o corpo tivesse desaparecido por dentro. A mortalha que rodeava o rosto está em seu lugar dentro da mortalha. Os invólucros que cercam o sudário estão em seu lugar... simplesmente o corpo de Jesus não está mais dentro.

Há um jogo de palavras no grego do Evangelho: chega o discípulo que Jesus amou. Dizem-nos: ele “vê” os lençóis (βλέπω). Na verdade, ele “percebe”; entra em seu olhar, mas ele não faz nada do que vê. Ele vê sem interpretar, sem fazer perguntas, um pouco como tirar uma foto, e depois deixa passar Pierre, que chega em seguida.

Este é outro verbo que se utiliza e que poderia ser traduzido como “contemplar”. Pedro “contempla” (θεωρέω), procura tentar entender e não entende. O que pode ter acontecido?

O discípulo que Jesus amava entra por sua vez atrás de Pedro. E aí, um terceiro verbo é usado onde nos é dito “ele viu e acreditou” (εἴδω). É ver no sentido de compreender, como quando dizemos: vejo o que você quer dizer, que significa: entendo o que você quer dizer. Ele viu e acreditou, isto é, compreendeu o que Jesus tinha ensinado, o que Jesus tinha anunciado. Ao ver os panos flácidos, a palavra do Senhor torna-se para ele decifrável, ao mesmo tempo que a palavra do Senhor lhe permite decifrar o que vê. É assim que vivemos a nossa relação com a palavra de Deus e especialmente com o Evangelho. Quando meditamos nas Sagradas Escrituras e elas permanecem na nossa memória, o Espírito Santo pode então usá-las, recorrendo à nossa memória para iluminar os acontecimentos que vivenciamos.

E acontece-nos, ao vivenciar algo, pensar novamente na palavra de Deus e às vezes dizer a nós mesmos: mas o que estou vivenciando é quase o mesmo acontecimento que ouvi no Evangelho… Este é o Espírito Santo que atua em nós. E ao mesmo tempo, o acontecimento que vivemos permite-nos compreender melhor a cena do Evangelho, ao mesmo tempo que esta cena do Evangelho nos ajuda a compreender o que está em jogo naquilo que vivemos.

Sim, existe de facto uma realidade no caso da ressurreição de Jesus. Aconteceu bem em nossa história, um dia no tempo, e os apóstolos viram algo concreto. Só mais tarde o Ressuscitado será visto por eles. Por enquanto, eles só têm esses maus sinais de flacidez da roupa de cama...

E nós, que não vimos estes panos flácidos, temos o testemunho dos apóstolos que nos contam o que viveram. E mais do que o testemunho dos apóstolos, temos atrás de nós 2000 anos de cristianismo e temos o testemunho de toda a coorte de santos que, de uma forma ou de outra, testemunham que fazemos bem em colocar a nossa fé em Jesus morto e ressuscitado . Esta fé nos foi dada no batismo. Mas esta fé não cresce em nós sem nós. Confiança em Deus, amor a Deus, fidelidade na busca de viver o Evangelho e os mandamentos do Senhor, tudo isso não pode ser feito sem nós. Mas a nossa resposta a Deus é fruto da graça que recebemos, é a fecundidade do Espírito Santo em nós.

Qual é a nossa situação? São Paulo nos deixou claro: “Você ressuscitou com Cristo, pois já está morto e sua vida agora está escondida com Cristo em Deus”. Não podemos mais viver com medo da morte. Sabemos que participamos da vitória de Cristo sobre a morte e que Jesus já transformou nossa passagem em uma passagem — e uso a palavra “morte” intencionalmente, que significa “passagem”. Quando chegar o nosso último dia, o último dia do nosso “exílio”, como Thérèse gosta de falar – ela sempre fala da nossa vida na terra como um “exílio”, a nossa pátria é o Céu – será agirá como Jesus para passar deste mundo para o Pai. Quem é aquele que nos conduz? É Jesus. E a partir de hoje trata-se de viver na fidelidade a Jesus. Esta fidelidade que se vive na oração quotidiana, na meditação das Sagradas Escrituras, na fidelidade à confissão regular, na fidelidade infalível à Missa de cada domingo. E podemos ver que esta fidelidade ao Senhor é sincera e verdadeira se o nosso amor ao próximo crescer. Não há outra medida da nossa fé senão a da caridade para com o próximo: É através do amor que vocês têm uns pelos outros que serão reconhecidos como meus discípulos., disse Jesus logo após a Santa Ceia (Jo 13,35).

Mas então como podemos viver toda a nossa vida permanecendo unidos a Jesus? O que nós temos que fazer ? Como Jesus. O discípulo de Jesus busca viver como Jesus e São Pedro nos dá um resumo de 8 palavras da vida de Jesus, um resumo que todos podemos lembrar de cor hoje:

Onde quer que ele fosse, ele fazia bem.

Foi isto que ouvimos na primeira leitura, onde quer que ele fosse, ele fazia bem. Este é o resumo da vida de Jesus. Este é o resumo do nosso futuro, irmãos e irmãs. Visto que viemos hoje para celebrar solenemente a ressurreição do Senhor, visto que viemos hoje para renovar a graça do nosso batismo e o compromisso da nossa vida no seguimento de Jesus, então esta descrição é a descrição do nosso futuro.

Sim, irmãos e irmãs, com a ajuda de todos os Santos do Céu, no poder do Espírito Santo, seguindo os passos de Jesus, decidamos firmemente que a partir de hoje, onde quer que formos, faremos o bem.

Um homem