Homilia do Padre Emmanuel Schwab, reitor do Santuário

1a leitura: Levitas 13, 1-2.45-46

Salmo: 31 (32), 1-2, 5ab, 5c.11

2nd leitura: 1 Coríntios 10, 31 – 11, 1

Evangelho: Marcos 1, 40-45

https://youtu.be/Pg8q0_uywpo

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O ano litúrgico não se divide em pequenos pedaços, é uma continuidade. E se toda a Quaresma e o Tempo Pascal que consagram a celebração solene da morte e ressurreição de Jesus se desenrolam no espaço de um mês, dependendo do ano, este período faz parte do período de um ano inteiro. As leituras deste domingo dão-nos, sem dúvida, algumas indicações para a Quaresma que terá início na quarta-feira e que nos preparará para viver o belo tempo pascal.

A lepra é uma doença que hoje sabemos tratar, uma doença muito contagiosa na época de Jesus: não há outra maneira senão manter os leprosos longe das aldeias e cidades para evitar o contágio. E nas Escrituras a lepra é tratada como uma doença particular: falamos sempre da purificação do leproso.

Podemos – não é uma obrigação – mas podemos evocar, através desta lepra que corrói a carne, a questão do pecado que corrói o coração; e ver na cura do leproso algo que nos é dito da purificação do nosso coração, esta purificação que o Senhor quer realizar em nós para nos libertar do poder do pecado e da morte que é a sua consequência. Este homem é purificado graciosamente pela vontade de Jesus. A vontade de Jesus traduz a vontade do Pai que é a primeira, que é a primeira na nossa existência. Se num dia no tempo vim ao mundo — quero dizer, no dia em que fui concebido no ventre da mulher que me carregou — é porque Deus assim o quis. Sou fruto de uma vontade expressa de Deus: Deus quis que eu existisse. Que pensemos que é incompreensível não é problema... O erro seria questionar o fato de que, quaisquer que fossem as circunstâncias da minha concepção, Deus quis que eu existisse.

E portanto a vontade de Deus está verdadeiramente em primeiro lugar na minha vida, é a fonte da minha existência. Cabe-me a mim consentir que ela seja também primordial na minha maneira de viver a minha vida, ou seja, que a minha vida se torne uma resposta à vontade de Deus e à implementação da vontade de Deus. Jesus faz-nos pedir isto no Pai Nosso, colocando nos nossos lábios esta oração: Pai, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.

Esta vontade de Deus também se expressa na salvação, como disse o apóstolo Paulo a Timóteo: “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Deus quer me salvar e deu o Filho único para que eu pudesse ser salvo.

É claro que, quando falo na primeira pessoa do singular, entendo ao mesmo tempo que toda pessoa humana na terra pode dizer esta mesma afirmação. Quando digo que “Deus quer eu sou salvo”, digo ao mesmo tempo que “Deus quer todos os homens sejam salvou." Mas se eu apenas disser: “Deus quer que todos os homens sejam salvos”, corro o risco de não acreditar completamente que “Deus quer que eu seja salvo”. Deus não quer que eu permaneça nos meus pecados e basta um momento para que eu, tendo pecado, me arrependa e me jogue nos braços de Jesus dizendo-lhe: “Se quiseres, podes purificar-me”.

- Quero isso. Seja purificado; vá mostrar-se ao padre.

Quando tomo consciência dos meus pecados, do meu pecado, às vezes um pecado grave, devo imediatamente voltar-me para o Senhor e dizer-Lhe o meu arrependimento… imediatamente. Especialmente se o pecado que cometi parece me afastar da oração, é ainda mais disso que preciso: voltar-me para o Senhor, contando-Lhe o meu arrependimento, contando-Lhe o meu desejo de conversão - não apenas o meu desejo, mas o meu querer – e me jogando em seus braços.

— Eu quero, seja purificado.

O que purifica? Amor misericordioso.

Santa Teresinha faz obviamente a ligação entre este amor purificador aqui na terra e o amor purificador do purgatório. Como sabeis, o purgatório é a antecâmara do céu. São João nos diz que quando virmos Cristo, seremos semelhantes a ele, porque o veremos como ele é (1 Jo 3,2:XNUMX). Não sei quanto a você, mas para mim, se eu morresse agora, parece-me que ainda falta um pouco de trabalho para ser como Cristo... Mas tenho um desejo profundo de me deixar agarre-se através de Cristo, e esse amor de Cristo ainda terá que me purificar antes que eu possa entrar em plena glória. O Purgatório é esta purificação última pelo fogo do amor misericordioso de Deus. Mas podemos acolher aqui este fogo de amor misericordioso.

No manuscrito A (84), Teresa retoma a oferta que fez da sua vida ao amor misericordioso. Escreveu a Madre Agnès, sua irmã prioresa, e disse-lhe: Minha querida Mãe, tu que me permitiste oferecer-me assim ao Bom Deus, conheces os rios, ou melhor, os oceanos de graças que vieram inundar minha alma... Ah! desde aquele dia feliz, parece-me que o Amor me penetra e me envolve, parece-me que a cada momento este Amor Misericordioso me renova, purifica a minha alma e não deixa vestígios de pecado, por isso não posso temer o purgatório... sei que sozinho não mereceria entrar neste lugar de expiação, pois só as almas santas podem ter acesso a ele, mas sei que o Fogo do Amor é mais santificador que o do purgatório, sei que Jesus não pode desejar sofrimentos inúteis por nós e que Ele não me inspiraria os desejos que sinto, se não quisesse realizá-los...

Oh ! Quão doce é o caminho do Amor!… Como quero empenhar-me em fazer sempre, com o maior abandono, a vontade do Bom Senhor!…

Gostaria de convidar vocês, irmãos e irmãs, a entrar na Quaresma como Teresa descreve esta doce jeito de amar, e que esta Quaresma seja para nós uma exposição ao amor misericordioso de Deus. No próximo domingo, na oração da Missa, pediremos «a graça de progredir no conhecimento do mistério de Cristo e de lhe responder com uma vida que lhe corresponda».

A grande graça da Quaresma é redescobrir o amor misericordioso de Deus, o coração misericordioso de Jesus.

A graça da Quaresma é voltar a Deus de todo o coração, aceitando ainda não no Céu, ainda em viagem, ainda nesta “terra do exílio” como chama Teresa, e não esconder o facto de que estamos a caminho por buscando nosso contentamento nas pequenas coisas da vida cotidiana.

A penitência da Quaresma é retirar de nós mesmos aquilo que nos impede de aprofundar dentro de nós o desejo do Céu.

Às vezes digo para mim mesmo: na verdade, Deus quer nos dar um diamante e, para isso, nos deu uma caixa magnífica para receber esse diamante. E usamos essa caixa para guardar nossas embalagens de doces que coletamos. Mas devemos entregar esta caixa... Nós somos a caixa e o diamante, é Cristo quem quer vir fazer morada em nós com o Pai no Espírito Santo! Expondo-nos assim ao amor misericordioso de Deus, acolhendo a renovação do nosso coração e a sua purificação, ouvimos ao mesmo tempo a ordem de Jesus de ir mostrar-nos aos sacerdotes e, portanto, receber o sacramento da penitência e da reconciliação. , como nos pede a Igreja, pelo menos uma vez por ano, de preferência na Páscoa.

E depois São Paulo exorta-nos, na segunda leitura que ouvimos, a aprender a fazer tudo para a glória de Deus: Tudo que você faz. E são necessárias as coisas mais básicas: “Coma, beba ou qualquer outra coisa, faça isso para a glória de Deus e não seja um estorvo para ninguém. Assim, eu mesmo, em todas as circunstâncias, procuro adaptar-me a todos, sem procurar o meu interesse pessoal, mas o da multidão dos homens, para que sejam salvos. Imite-me, como eu também imito a Cristo. » Uma sugestão, irmãos e irmãs, para esta Quaresma, é reler esta segunda leitura todas as manhãs deste domingo, e todos os dias procurar fazer tudo para a glória de Deus, todos os dias procurar não ser obstáculo para ninguém todos os dias. dia buscando adaptar-se ou tentando adaptar-se a todos sem buscar o nosso interesse pessoal, tendo no coração o desejo de que todos sejam salvos.

Que Deus nos dê a graça de nos revelar o mistério insondável de Cristo Jesus.

Um homem