Homilia do Padre Emmanuel Schwab

Leituras à escolha do celebrante

1a leitura: Gênesis 50,24-26; Êxodo 13,19-21; Josué 24,32

Salmo: 129

2nd leitura: 2 Coríntios 4,5-18

Evangelho: João 19,38-42

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Na nossa basílica guardamos permanentemente as relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus da Sagrada Face. Estes são os três ossos do seu braço direito, o úmero, o rádio e a ulna... este braço com o qual ela lavava a louça e também preparava os cálices e a cibória para a missa, com a qual ela escrevia as suas cartas, os seus manuscritos. E somos sensíveis a essas relíquias. Temos diversos relicários que contêm este ou aquele osso de Santa Teresa e esses relicários são procurados aqui e ali no mundo. Na segunda-feira receberemos o relicário centenário, que retorna de 10 meses passados ​​no Brasil, onde viajou por todo o Brasil com grandes multidões e muito fervor.

Esta veneração das relíquias dos santos é algo muito antigo, ouvimos testemunho disso com os ossos do patriarca José, um dos filhos de Jacó. O cuidado dispensado ao corpo dos defuntos, o cuidado dispensado aos restos mortais dos defuntos sempre teve um grande valor no povo de Israel e ainda mais na Igreja. Por trás desta veneração pelas relíquias, por trás deste cuidado com os corpos dos defuntos, está a esperança da ressurreição.

Ah, claro... claro, Deus que nos chamou do nada à existência, que nos criou do nada, claro que Deus pode nos ressuscitar do pó em que a maioria de nós se tornará novamente. Mas também vemos como, surpreendentemente, alguns santos, quando visitamos o seu túmulo, descobrimos que os seus corpos estão intactos. O que isto significa?

Ao meditar no cadáver de um homem, voltamos ao próprio significado do corpo vivo de um homem. Qual é o status do nosso corpo? Nossa pessoa, nosso eu, nosso eu não é algo puramente espiritual que teria como veículo nesta terra um corpo, como temos como veículo um carro, um vagão de trem ou um avião. Meu corpo é parte de mim. Meu corpo sou eu, assim como minha alma sou eu. E sempre vivemos a morte como uma tragédia, mesmo que a nossa esperança na vida eterna nos permita continuar o nosso caminho mantendo os olhos fixos no Céu; a morte continua sendo uma tragédia. Contradiz diretamente a nossa esperança de eternidade, e o que nos desconcerta é precisamente a transição do estado de corpo vivo para o de cadáver.

Ao mesmo tempo, ainda é o mesmo corpo, mas tornou-se inanimado e pode deteriorar-se. Somos homens, não somos anjos; e nossa condição humana deve estar precisamente neste ponto de junção do mundo puramente espiritual, que é o mundo angélico, e do mundo carnal, que é todo o mundo animal. E nós somos deste mundo carnal e deste mundo espiritual. Isto é o que torna a nossa condição humana original e é o que torna a nossa condição humana grande. Devemos amar a nossa vida humana na sua condição carnal.

Quando falamos de ressurreição, queremos dizer que é o nosso próprio corpo que está em causa, mesmo que não saibamos o que realmente será a ressurreição. Mas já quando contemplamos a ressurreição de Jesus, vemos claramente que há uma continuidade entre aquele que é colocado no sepulcro e aquele que os apóstolos encontrarão, vivendo para sempre mais forte que a morte. Caso contrário, o sinal do túmulo vazio não teria sentido.

Hoje, há várias décadas, a cremação tem ocupado cada vez mais espaço na nossa sociedade. E não creio que seja algo indiferente. O que significa queimar os corpos dos falecidos e depois transformar os ossos em pó? O que isto significa em relação ao respeito por este corpo morto prometido à ressurreição, este corpo morto que, no sacramento da Eucaristia, recebeu o Corpo de Cristo ressuscitado? Ingerimos, digerimos o Corpo de Cristo ressuscitado na nossa condição mortal, como se houvesse em nós as primícias da ressurreição do corpo, desta ressurreição da carne que afirmamos no Credo.

É por isso que os cristãos sempre quiseram imitar o Senhor até na sua morte, não só no facto de oferecer a minha vida por amor a Deus e aos irmãos, de ir até ao fim do amor, mas também de imitar Cristo na sua morte, por depositante no túmulo, como ouvimos no Evangelho. Jesus foi colocado no túmulo e nós colocamos nossos mortos no túmulo aguardando a ressurreição. A visita que fazemos ao cemitério tem, sem dúvida, um significado diferente da visita de quem não conhece o Cristo ressuscitado, porque vimos visitar os túmulos dos nossos defuntos nesta esperança da ressurreição, nesta certeza de que a vida não é destruída, mas transformada como cantarei daqui a pouco no prefácio da oração eucarística.

O facto de a veneração das relíquias nos últimos anos ter ocupado mais lugar na devoção popular, na vida da Igreja, é, creio, um sinal importante para nós. Santa Teresinha gostava muito de relíquias. Ela tinha uma pequena sacola contendo relíquias. E quando ela nos conta sobre sua viagem à Itália, ela nos conta:

Em Milão:

Céline e eu éramos intrépidas, sempre as primeiras e seguindo diretamente o Monsenhor para ver tudo sobre as relíquias dos Santos e ouvir as explicações; então, enquanto ele oferecia o Santo Sacrifício no túmulo de São Carlos, estávamos com Papai atrás do Altar, nossas cabeças apoiadas no santuário [que] encerra o corpo do santo vestido com suas vestes pontifícias, era assim em todos os lugares. . (MSA 58v°)

E em Roma:

A visita à igreja de Santa Inês também foi muito doce para mim, era uma amiga de infância que eu ia visitar na casa dela, falei longamente com ela sobre aquela que tão bem leva o nome dela e fiz todos meus esforços para obter uma das relíquias da Angélica Padroeira da minha querida Mãe para devolvê-la, mas foi-nos impossível ter outra coisa senão uma pequena pedra vermelha que se destacava de um rico mosaico cuja origem data remonta à época de Santa Inês e que ela deve ter olhado com frequência. (MSA 61v°)

No último mês de vida, no início de setembro, no leito da enfermaria:

Traga-me as relíquias de Madre Ana de Jesus e de Théophane Vénard, quero beijá-las. (CJ 11 de setembro de 5)

Sim, esta veneração das relíquias convida-nos a repensar a forma como olhamos para o nosso próprio corpo e para o corpo dos defuntos. As relíquias nos dizem que a pessoa realmente existiu. As relíquias dizem-nos que foi verdadeiramente no seu corpo humano que ela experimentou a santidade de Deus.

Para terminar, conto-lhes esta anedota que o Padre Sangalli, que cuidou da causa de beatificação dos Santos Luís e Zélie Martin, me contou há três dias. O milagre escolhido para a beatificação de Luís e Zélia é a cura de um recém-nascido, uma cura verdadeiramente milagrosa atribuída à intercessão dos Santos Luís e Zélia. Esse garotinho se chama Pietro. Quando houve a exumação dos corpos de Luís e Zélia, como sempre fazemos nos processos de beatificação, o menino estava lá, devia ter alguns anos – este não foi imediatamente depois do milagre – e foi. estava presente. Ele compareceu e viu o que restava dos corpos de Louis e Zélie. Quando alguém mais tarde perguntou a ele, mas o que você viu? Ele respondeu: “Non ho visto tutto porque o resto está no céu” ... Não vi tudo porque o resto está no céu.

Bem, acho que esse garotinho tinha tudo planejado! Estas relíquias muito concretas que nos restam dos santos dizem-nos que o resto está no Céu, ou seja, são como um sinal que aponta para o Céu. Quando veneramos relíquias, estamos sempre às portas do Céu. Amemos nossos corpos, amemos com muito respeito os corpos de nossos falecidos. Coloquemo-los no túmulo, imitando Jesus, que foi colocado no túmulo.

Um homem

Padre Emmanuel Schwab, reitor do Santuário